*****
SÚPLICA
Quem me dera descansar em ti! Quem me dera que
viesses a meu coração e que o embriagasses, para que eu me esqueça de minhas
maldades e me abrace contigo, meu único bem! Que és para mim? Tem piedade de
mim, para que eu possa falar. E que sou eu para ti, para que me ordenes amar-te
e, se não o fizer, irar-te contra mim, ameaçando-me com terríveis castigos?
Acaso é pequeno o castigo de não te amar? Ai de mim! Dize-me por tuas
misericórdias, meu Senhor e meu Deus, que és para mim? Dize a minha alma: Eu
sou a tua salvação. Que eu ouça e siga essa voz e te alcance. Não queiras
esconder-me teu rosto. Morra eu para que possa vê-lo para não morrer
eternamente.
Estreita é a casa de minha alma para que venhas
até ela: que seja por ti dilatada. Está em ruínas; restaura-a. Há nela nódoas
que ofendem o teu olhar: confesso-o, pois eu o sei; porém, quem haverá de
purificá-la? A quem clamarei senão a ti? Livra-me, Senhor, dos pecados ocultos,
e perdoa a teu servo os alheios! Creio, e por isso falo. Tu o sabes, Senhor.
Acaso não confessei diante de ti meus delitos contra mim, ó meu Deus? E não me
perdoaste a impiedade de meu coração? Não quero contender em juízos contigo, que
és a verdade, e não quero enganar-me a mim mesmo, para que não se engane a si
mesma minha iniquidade. Não quero contender em juízos contigo, porque, se dás
atenção às iniquidades, Senhor, quem, Senhor, subsistirá?
Santo Agostinho
*****